sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Tribunais de família ignoram violência doméstica nas suas decisões, denuncia relatório.

A violência doméstica é ignorada pelos tribunais de família nos divórcios e regulação do poder parental, revela um relatório da Associação Portuguesa de Mulheres Juristas (APMJ), que denuncia também a deficiente aplicação de medidas de coação aos agressores.

O relatório reúne as conclusões do projeto Themis, promovido pela Associação  Portuguesa de Mulheres Juristas com o objetivo de dar apoio jurídico e psicológico  especializado a mulheres vítimas de violência doméstica.  

"Quando as mulheres se dirigem aos tribunais para tratarem do divórcio  ou da regulação das responsabilidades parentais, as questões da violência  doméstica são ignoradas pelos tribunais de família", disse à agência Lusa  a presidente da APMJ, Maria Teresa Féria de Almeida.

Segundo a presidente da APMJ, esta postura dos tribunais de família  está "em discordância com a proteção que é conferida  às vítimas pela leis  penal e processual penal". 

"Existe uma dissociação entre a pessoa que, sendo vítima de violência  doméstica, apresenta uma queixa na polícia, recebe o estatuto de vítima  e é acompanhada ao longo de todo o processo penal, e depois o processo de  divórcio parece que ignora completamente este tipo de realidade", sublinhou.

Para Maria Teresa de Almeida, a violência doméstica começa logo por  ser ignorada como razão para a rutura ou desavença familiar e continua a  ser ignorada "aquando da regulação das responsabilidades parentais ao serem  assegurados direitos de visita e, em alguns casos, até mesmo a guarda das  crianças aos progenitores agressores." 

Outra das conclusões do relatório revela, segundo a presidente da APMJ,  "a deficiente aplicação de medidas de coação  aos agressores e a praticamente  inexistente aplicação de medidas de proteção adequadas das vítimas". 

A coordenadora do projeto Themis, Isabel Estrela, explicou à agência  Lusa que o direito de família tem como regra a guarda partilhada dos filhos,  considerando que nos casos de violência doméstica e de abuso sexual essa  solução não é adequada. 

"O Tribunal Criminal determina o afastamento do agressor e o Tribunal  de Família decide que a vítima é obrigada a conviver com o agressor através  das visitas aos filhos", disse. 

Isabel Estrela adiantou que durante os 18 meses de duração do projeto  foram atendidas 200 mulheres. 
O aconselhamento jurídico solicitado estava na maioria relacionado  com os próprios processos-crime por violência doméstica, com os divórcios  e com a regulação do poder parental.  

O relatório do Themis será apresentado na íntegra esta quinta-feira num  colóquio que encerra o projeto e as suas conclusões serão encaminhadas às  entidades responsáveis nesta área. A presidente das juristas portuguesas explicou que, com base nas conclusões  deste projeto, foi já apresentado na Assembleia da República um pedido de  alteração de algumas normas legislativas. 

"Estas constatações e as necessárias modificações legislativas vêm  na linha do que impõe a Convenção de Istambul  sobre prevenção e combate  à violência doméstica e neste momento impõe-se que haja um reajustamento  do ordenamento legislativo", defendeu. 

O projeto Themis, financiado por fundos europeus, decorreu durante  18 meses na região de Lisboa. Através de uma linha telefónica, as mulheres vítimas de violência doméstica  eram encaminhadas para consultas onde lhes era facultado aconselhamento  jurídico gratuito.

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